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O que pensa um australiano depois de um ano no Brasil

02/03/2017O que pensa um australiano depois de um ano no Brasil

Kevin Gibson, CEO Latam do grupo de recrutamento Robert Walters, relata sua experiência com o país

Sou australiano, vivi nove anos no Japão e oito em Cingapura. Mudei para São Paulo há exatamente um ano para assumir a operação no Brasil e América Latina de uma empresa global de recrutamento. Viver aqui, até agora, tem me proporcionado experiências muito particulares e, sobretudo, diferentes do que eu havia imaginado de antemão.

Após trabalhar por muito tempo em dois dos países mais organizados do mundo, eu passei a não me surpreender com um sistema tributário razoável, uma regulamentação clara, um governo previsível e transparente e uma inflação baixa – contexto esse que favorece a dedicação plena do executivo à administração da empresa, sem ter que se preocupar com burocracias e questões externas. No Brasil, no entanto, a situação é bem diferente.

Chegando aqui, fiquei surpreso com o número de desafios ligados a questões burocráticas que qualquer empresa enfrenta. Eu aprendi que você precisa ser forte, criativo e flexível para enfrentá-los – estes que estão fora do seu controle e que aparecem de maneira repentina. Em outros países, as pessoas se mostram incomodadas e frustradas diante de desafios desta natureza; no Brasil, no entanto, avaliar as situações e ajustar medidas e comportamentos para lidar com os imprevistos parecem ser habilidades inatas à cultura que rege o mercado de trabalho.

Isso pode explicar, em parte, os motivos pelos quais os brasileiros fazem tanto sucesso trabalhando no exterior quando inseridos em ambientes favoráveis ao exercício integral de suas funções. Soa pouco verossímil, mas, enquanto 15.000 brasileiros vivem e trabalham na Austrália, apenas 500 australianos atuam no Brasil.

Quando você vivencia o mercado do Japão ou de Cingapura, você está inserido nos dois ambientes de trabalho mais eficientes e produtivos do mundo, onde os prazos são rígidos e as reuniões são administradas com a mesma precisão de horário que os trens bala. Os brasileiros adotam uma postura mais flexível em relação a horários; uma atitude que, no início, é muito frustrante para um recém-chegado neste país. No entanto, você acaba se ajustando ao perceber que, mais cedo ou mais tarde, as coisas acabam acontecendo. Esse jeito de fazer negócios é muito diferente para um novato (como eu); mas devo admitir que é muito agradável trabalhar em um ambiente onde as pessoas querem realmente se conhecer e gostam de se divertir no escritório. Este ponto tem, definitivamente, sido um dos destaques do meu tempo no Brasil.

Outro aspecto relevante acerca da minha mudança para o Brasil foi o fato de que eu cheguei durante o pior momento da crise econômica, no qual as empresas de recrutamento sentiram toda a sua força e efeitos negativos – digo por experiência. Com a progressiva recuperação do mercado, a cada mês que passava eu me sentia um pouco melhor que no mês anterior e hoje estou muito otimista em relação ao Brasil, especialmente depois de ver a persistência das pessoas e companhias brasileiras e o desejo de voltar a crescer. Na verdade, não fiquei surpreso, mas orgulhoso, ao descobrir que o Brasil é o 3º país mais empreendedor do mundo (os EUA estão 37º no ranking).

Estou aqui há apenas um ano e tenho crescente confiança no potencial do Brasil, um país extremamente rico em recursos naturais e com uma população muito determinada. Acredito que o futuro é muito promissor para o país e quero ter a chance de estar aqui para ver o país alcançar tudo que seu grande potencial lhe permite.

*Kevin Gibson é CEO Latam da Robert Walters

Data da publicação: 23/01/2017

Fonte: Época Negócios 


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